9º dia - Antofagasta - San Pedro de Atacama
04:37 da manhã acordei....Não tinha mais sono....
Olhei embaixo da cama pra ver se o Miguel estava lá...Nada.
Levantei, fiz a higiene, me arrumei, peguei as coisas e as 5 em ponto estava acordando o vigia. Queria tirar a moto do restaurante e cair logo na estrada antes que o Miguel acordasse. Ainda tinha que abastecer a moto pois no dia anterior, com toda a confusão que passei, havia esquecido de abastecer.
O vigia sonoleto saiu comigo e abriu a porta do restaurante. A rua estava deserta e ainda era noite. No máximo se via um pequeno alvorecer a leste, anunciando que eu teria mais meia hora de escuridão no máximo.
Dei na chave e o motor preguiçosamente rugiu. Estacionei a moto defronte ao hotel e comecei a fazer o leva e trás das coisas, pendurando-as na moto. 5:15 montei e marquei no GPS um posto de gasolina ali perto. Por sorte o mesmo estava aberto e fiz o abastecimento.
Aviso de rota de fuga de Tsunami

As 6 da manhã eu já estava na Ruta 5 Panamericana, em direção nordeste e já encontrando os primeiros raios de sol na estrada.

Logo entrei na 25 em direção a Calama, aonde faria o único abastecimento para chegar em San Pedro. Nisso cruzei com um grupo de 4 brasileiros indo em direção de San Pedro. Os mesmos estavam numa tocada mais forte e deixei eles seguirem.




Reencontrei com eles na placa de entrada da cidade de San Pedro. Era 4 motociclistas do Moto Clube de Campos/RJ, o mais antigo motoclube em atividade do Brasil e os mesmos estavam fazendo Acre/Peru/Bolivia e voltando ao Brasil via Atacama. Eduardo em sua Fazer 600, Zé em sua TDM 900, os mais velhos Gaúcho em sua Varadero e o Sergio, líder do grupo e o mais velho de todos, motociclista experiente que já havia ido até o Alaska de moto e que estava em ums BMW GS 1200 frankestein, com rodas de liga na frente e raiada atrás.

Ficamos tirando algumas fotos na placa e conversando. Decidi me juntar a eles nessas estadia em San Pedro. Sergio disse que conhecia um Hostel legal lá e partimos. Chegando no Hostel, descarregamos as motos e fomos tomar uma cerveja, almoçar e ver os passeios que iríamos fazer nesse dia.



Foram três dias (contado o da chegada) que fiquei em San Pedro e vou dividir eles.
Nesse dia de chegada fomos a uma agência e optamos de ir aos Ojos Del Salar e a laguna Cejar, um conjunto de lagoas aonde era permitido o banho, com um coffe brake no fim da tarde para apreciar o por do sol. São 25 km na van da agência até lá, numa van lotada e que sacolejava muito. Chegando lá estavam as lagoas lotadas de gente e as pessoas saiam brancas de sal devido a alta concentração do mineral. Não me animei em entrar na água e fiquei olhando e rindo da molecada que estava lá.



Nisso aconteceu uma coisa muito curiosa...
No momento que chegamos e descemos da van, chegou um brasileiro, aparentando uns 50/60 anos, numa Hilux branca cabine dupla, zerada, top de linha, com placa de Mato Grosso (não lembro a cidade). O carro vinha todo adesivado com escritos “Expedição Atacama” pela lataria, em tamanhos e cores que poderiam ser vistos até do espaço (parecia um carro alegórico), bem como outros adesivos que davam a entender se tratar de algum tipo de fazendeiro.
O fazendeiro desceu de sua Hilux, acompanhado de sua loira oxigenada, fazendo um escarcéu “a lá Clovis Bornay”, notoriamente tentando chamar a atenção para si na ânsia de querer se mostrar como um cara foda, viajante destemido (porém detentor de um pênis pequeno, obviamente)..
Ele e a loira nos seguiram no passeio e lá nas lagunas ví ele contando vantagens aos que estavam ao redor, alegando que havia atravessado o Paso de Jama naquele dia, que foi uma viagem incrível, que foi um feito imensurável e etc.


O Resto da tarde passou normalmente, tiramos diversas fotos e fizemos um lanche. Logo após o por do sol, retornamos em direção da van e vi o fazendeiro fazendo um novo escarcéu..
O idiota havia deixado sobre o banco traseiro sua bolsa com dinheiro, notebook e outras coisas de valor. Achava que devido a estar no Chie que nunca sofreria nenhum tipo de furto.
Durante o passeio do fazendeiro e vendo que o carro havia ficado sozinho, os meliantes colocaram o joelho no meio da porta traseira do passageiro e, segurando no arco da janela, entortaram a porta, colocando a mão por dentro e abrindo-a. daí foi só passar a mão na bolsa e ser feliz.
O fazendeiro ficou louco e começou a discutir com os chilenos, alegando que tinha 10000 dólares na bolsa, notebook e outras coisas, os chilenos faziam “cara de paisagem” e se limitavam a apontar para uma placa que informava em espanhol que eles não se responsabilizavam pelos veículos e/ou objetos no interior dos mesmos.
Não fiquei pra ver o desfecho da historia mas fica uma lição. Não ache que você está fora do Brasil que você está seguro de sofrer um assalto/furto, sempre fique esperto.
Voltamos ao hotel, tomamos um banho e saímos para jantar, parando numa pizzaria na Caracoles para comer, daí descobri outras coisas:
1 – Evite comer na Caracoles, por ser a rua principal e a mais badalada os preços são absurdamente caros.
2 - Você não pode transitar nas ruas bebendo bebidas alcoólicas (tomei uma chamada de um policial, que me obrigou a jogar a cerveja fora).
3 – San Pedro é uma mistura de gente do mundo todo. Você verá japoneses, alemães, holandesas, espanhóis e iutros, numa mistura muito doida de línguas.
4 - Em San Pedro todo o comércio e bares são obrigados a fechar meia-noite mas não pense que a diversão acabou..
Meia noite estava voltando pro hotel e vi um pessoal conversando na esquina, falando sobre uma “Rave”. Não curto muito isso mas como estava sem sono parei e perguntei aonde era e eles me falaram que era na entrada do Vale de La Muerte, ao lado da rodovia e que já estava rolando.
Fiquei curioso...Peguei meu capacete, liguei a moto a parti pra lá. Chegando vi um circulo de carros (uns 20), todos de farol ligado e virados pro centro, sendo que uma pickup estava virada de ré e tinha uma aparelhagem de som, a qual tocava música eletrônica na maior altura. Fiquei encostado na minha moto por trás, vendo o que rolava no centro daquele picadeiro iluminado pelos carros. A molecada estava no 220v, pulando e dançando como pererecas epiléticas, me levando a ficar dando gargalhadas, as quais eram abafadas pelo som de música eletrônica. Não tinha ninguém puro ali e o ácido se fazia notoriamente presente.
Fiquei particularmente interessado em duas meninas lindas, que se agarravam e se beijavam encima do capô de um carro no canto, coisa linda de se ver...A abstinência de dez dias longe da patroa já faziam efeitos maléficos na minha imaginação..
A tortura de ver aquilo e o cansaço que já se fazia presente me fizeram voltar ao hotel, amanhã teriam novos passeios a ser feitos.
Continua...